Por Luigi Rotelli
Fotografia é a arte de pintar com a luz. Se você acompanhar otrabalho de um fotógrafo, verá que para fazer uma única foto é precisocuidar de vários fatores: o enquadramento, a cor da luz, o contraste, as sombras, a disposição dos objetos, a postura e a expressão dos modelos, maquiagem, para dar suavidade, retirar brilhos excessivos da pele, ofigurino, que além de valorizar os modelos tem que harmonizar com as cores do ambiente. No cinema as coisas são bem mais complicadas: são 24 fotos por segundo, em movimento, feitas em diversas tomadas, diferentes ângulos e planos-sequencia e todas têm que sair boas. No filme Orgulho e Preconceito, de ×Joe Wright, com direção de fotografia de ×Roman Osin, cada segundo é eternizado em uma obra prima, com as sutilezas de luz e sombra e a paleta de cores de uma pintura à óleo. E ainda com a beleza de Keira Knightley…

Repare o brilho da pele e dos olhos, a cor azul e o baixo contraste da luz da madrugada, preservada na cena, feita pouco antes do sol nascer. A luz ésuave no rosto e não deixa sombras. Fosse uma câmera digital e o balanço de branco teria que ser cuidadosamente ajustado para preservar essa cor azulada. A cena tem um timing perfeito, porque ela começa pouco antes do sol nascer e termina com os primeiros raios de sol. Em poucos minutos a corda luz, o contraste e a saturação das cores se altera dramaticamente.
Assista a algumas cenas desse belo filme ao som da música Thousand Years

Poucos
minutos depois a luz mudou significativamente. O contraste se acentuou
um pouco. As cores estão mais acentuadas. Nesta cena, um solo crescendo
de violoncelo, minimalista, dá lugar ao piano impressionista à medida
que o dia vai nascendo. A transição entre noite e dia, nos primeiros momentos da manhã é a
hora mágica da fotografia. A paisagem muda com a luz a cada segundo; o
contraste é baixo, o que favorece a fotografia, mas o cara tem que ser
muito, mas muito bom mesmo para conseguir um bom resultado. Em outra cena, que se passa na beira do lago, no início da manhã, a
luz do sol refletida no lago foi suavizada de um lado e rebatida de
outro, produzindo um resultado belíssimo.

A diferença de temperatura de cor de uma cena à sombra de uma árvore:

A
caraterística da luz à sombra de uma árvore: a temperatura de cor é
mais fria porque debaixo da árvore a luz que chega é do céu e o
contraste é mais suave, porque a luz é indireta. A luz deve ter sido
reforçada apenas com rebatedores. E na chuva a cor da luz é ainda mais fria (azulada):

As cenas de exterior, de natureza, são absolutamente primorosas.

Nesta cena, a câmera se desloca em direção ao abismo, ficando suspensa sobre ele no final.

A árvore é linda, a disposição dos personagens traz equilíbrio e não há sombras com dia nublado.
Agora no interior. Reparem na beleza desta cena. A saturação das cores quentes da luz de velas, o contraste perfeito, comedido, as nuances de luz e sombra mostrando a textura delicada da pele.

Em cada cena, o fotógrafo preservou as características da luz. Ele não forçou, apenas suavizou, acentuou aqui e ali para dar tridimensionalidade, separar o personagem do fundo.

Não há como fazer cenas de interiores sem iluminação artificial, porque essa luz seria insuficiente para filmar em movimento. Mas a luz lateral que entra pela janela é tão natural que mostra a maestria do fotógrafo em posicionar as luzes para criar este efeito.
A luz de velas, fiel à época, é usada com inspiração nos jantares.

A palete de cores é simplesmente maravilhosa:

Nesta
cena ele usa contraste de cores, combinando a luz azulada que entra
pela janela (dá para perceber no cabelo de Donald Shuterland) com a cor
quente da luz de vela.

A movimentação das câmeras, as diversas tomadas de diferentes ângulos e a fotografia é apenas um dos ingredientes do filme, em conjunto com direção, atuação, roteiro, produção, cenário, figurinos, maquiagem. Tudo tem que funcionar com perfeição.

As salas das mansões são um espetáculo à parte.

Em outra cena mais impressionante no baile a câmera passeia por diferentes salas em uma única tomada, sem cortes, por mais de 3 minutos, uma eternidade pela seqüência impressionante de eventos que envolvem quase todos os personagens do filme, passeando entre pilares, entre diálogos, sempre observando, ouvindo, filmando detalhes delicados de mãos, de olhares, de expectativas – um primor de métrica, de iluminação e enquadramento. Jamais havia visto uma cena tão difícil (pela sequencia de eventos que envolve) em uma única tomada sair tão absolutamente perfeita e natural.
A trilha sonora deste filme é simplesmente maravilhosa. Foi gravada pela famosa English Chamber Orchestra e todos os solos de piano, inspirado nas primeiras sonatas de Beethoven – música contemporânea de ×Jane Austen no final do Século XVIII – é tocada por ninguém menos que Jean-Yves Thibaudet, renomado pianista francês . Dario Marianelli humildemente escreveu no CD da trilha sonora que ele deve ter feito alguma coisa certa para ter sido abençoado com as pessoas que ele acabou trabalhando em Orgulho e Preconceito. E, ao contrário do que ocorre na maioria dos filmes, em que a música é feita somente depois de terminado o filme, o diretor ×Joe Wright procurou Dario Marianelli bem antes de começar a filmar.
A performance de Matthew MacFadyen como Mr. Darcy é extraordinária, assim como a da ×Keira Knightley com sua beleza e talento excepcional, como Elizabeth, e Donald Shuterland, como o pai de Elizabeth. O roteiro é inteligente e emocionante, a produção e o figurino são impecáveis, as locações estonteates – belíssimas mansões inglesas – e a direção iluminada de ×Joe Wright fazem deste filme uma grande obra prima na história do cinema.
P.S.: E tem gente que acha caro comprar um DVD original. Ter uma obra prima como esta em sua casa por 30 reais é um milagre. A imagem deste DVD, aliás, está impecável e quando sair o blu-ray eu estarei na fila para comprar.
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