A lista dos indicados ao Grammy Latino 2019 foi divulgada nesta quinta-feira. Entre os indicados, Chico Buarque concorre em três categorias.
O aclamado Caravanas disputa o Grammy de Álbum do Ano e Melhor Álbum de MPB. A música título do disco concorre na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa. Nomes como Hermeto Pascoal, Maria Rita, Elza Soares e Martinho da Vila também estão nas indicações.
O Grammy Latino acontece desde 2000 e está na sua 19ª edição. A cerimônia deste ano acontecerá no dia 15 de novembro, na Arena do hotel MGM Grand, em Las Vegas.
Compositor, cantor e guitarrista brasileiro, João Bosco de Freitas Mucci nasceu no dia 13 de julho de 1946, na cidade de Ponte Nova, em Minas Gerais, no Brasil. Sexto filho de uma extensa família, aos 4 anos de idade já cantava nas missas da paróquia local. Aos 12 anos, os pais oferecem-lhe a primeira guitarra e funda o seu primeiro conjunto rock, chamando-lhe X-Gare. Estudante dedicado, em 1967, o jovem João ingressa no curso de Engenharia da Universidade de Ouro Preto, terminando a formação 5 anos mais tarde. Ainda no ano de 1967, conhece o poeta Vinicius de Moraes e, com ele, escreve algumas canções (entre elas, as clássicas "Rosa dos Ventos", "Samba do Pouso" e "O Mergulhador").
Três anos depois, começa com o poeta carioca Aldir Blanc uma parceria que haveria de manter-se em mais de uma centena de canções. Também em 1972, grava Disco de Bolso , projeto do jornal O Pasquim. O vinil single tinha, de um lado, o trecho"Agnus Dei" (Bosco/Blanc) e do outro "Águas de março", mítica canção de Tom Jobim. Ainda no mesmo ano, conhece a cantora Elis Regina e esta grava "Bala com Bala", outra canção da autoria da dupla João Bosco/Aldir Blanc. A voz de Regina popularizaria outras composições do par, como são os casos de "Mestre-sala dos Mares", "Dois pra Lá, Dois pra Cá" e "O Bêbado e a Equilibrista".
No seguimento do sucesso, a década de setenta é particularmente ativa para João Bosco. Algumas gravações desse período, elogiadas internacionalmente (por exemplo, por John McLaughlin), ajudaram a firmar um estatuto de guitarrista de eleição e de compositor.Nos anos 80, finda a parceria de vários anos com Aldir Blanc, João Bosco começa a aparecer mais no papel de cantor, contando com outros companheiros para a escrita, nomeadamente o seu filho, o poeta Francisco Bosco.
A preocupação social mantinha-se como o tônico dominante da sua obra. Em 1998, escreveu o acompanhamento musical do bailado Benguelê, dos cariocas Grupo Corpo, apresentado no Rio de Janeiro, em São Paulo e Belo Horizonte, bem como em alguns eventos internacionais. Após um hiato que durou cerca de cinco anos, João Bosco regressou às gravações de estúdio com Malabaristas do Sinal Vermelho, nova parceria com o filho e que, sendo muito bem acolhido pela crítica especializada, haveria de render ao músico uma nomeação para o Grammy latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.
Por altura das comemorações dos trinta anos de carreira, João Bosco editou o primeiro DVD ao vivo da sua carreira. Obrigada Gente! , chegado às lojas no decorrer de 2006, fazia a revisão do repertório de sambas e composições célebres do músico, desde os anos 60 até aos discos mais recentes, num espetáculo gravado em São Paulo e que contou com as participações de Guinga, Hamilton Holanda, Yamandú Costa e Djavan.
Você sabia que foi uma mulher negra que criou “Rock N’Roll”?
Via Pensador Anônimo em 16/01/2016
Quase que completamente desconhecida hoje, Sister Rosetta tinha um programa gospel na rádio nos anos 30, 40. Reza a lenda que King of Rock and Roll, Mr. Elvis, quando criança, saía correndo da escola para ouvir o programa e as músicas que ela cantava.
O jeito dela cantar e tocar guitarra acabou sendo assimilado por outro King, o B.B.
E ainda há o terceiro King, desta vez o do Folk, Bob Dylan, assumidamente fã desta artista extraordinária.
É gratificante relembrar e curtir os antepassados negros que fizeram a história do blues americano, como a pioneira Sister Rosetta Tharpe, a madrinha-avó do Rock And Roll.
Sister Rosetta Tharpe foi um amor à primeira vista. Aquela mulher de energia possante a brincar com a guitarra, faz lembrar Chuck Berry. A verdade é que foi esta a mulher que inspirou Chuck Berry. A mulher “bonita, divina sem mencionar sublime e esplêndida”, como Bob Dylan afirmou numa entrevista, é a essência do Rock n’ Roll.
Nascida a 20 de Março de 1915, em Cotton Plant, Arkansas. Filha de Willis Atkins e Katie Bell Nublin, apanhadores de algodão. A sua mãe tornou-se pastora evangélica, cantando e tocando para a sua congregação. É através da sua mãe e pela sua mão que a pequena Rosetta Nublin faz a sua primeira atuação aos 4 anos, acompanhada pela guitarra, cantou o conhecido tema gospel Jesus is on the mainline. Aos 6 anos de idade, segue a sua mãe, que abandonou o seu pai e migrou para norte.
Durante a juventude com a sua mãe, fez digressões em circuitos evangélicos. Influenciada pelo seu meio e pela energia de Chicago, uma cidade que fervilhava a Blues e Jazz, a jovem Rosetta misturava o Gospel com os ritmos seculares, o que, juntamente com o seu engenho com a guitarra, tornaram-na bastante popular. A forma como tocava transpirava Blues e impressionou muitos. Rosetta era também uma das poucas mulheres negras a tocarem guitarra na década de 20 do século passado.
Casou-se com Thomas A. Thorpe, um pastor evangélico abusivo e controlador que se aproveitara do talento e da popularidade de Rosetta. Decide divorciar-se, mantendo o nome do ex-marido, mas alterando a grafia para Tharpe, nome pelo qual ficou conhecida. Muda-se para Nova Iorque com a mãe, onde conquistou o sucesso e atuou no prestigiado Cotton Club, ao lado de Cab Calloway, para um público mais mundano. O que gerou polêmica junto do seu fiel público-base.
Faz história, quando, em 1938, se torna na primeira cantora gospel a assinar por uma grande discográfica, a Decca Records. Um contrato controverso, pois impunha que Rosetta cantasse tudo o que o seu manager propunha. Os temas Rock Me e The lonesome Road conquistam as tabelas Pop em Outubro do mesmo ano. A irmã Rosetta era uma superestrela. Apesar do mal estar entre a comunidade gospel causado por músicas como Tall Skinny Papa, ninguém conseguia ficar indiferente ao seu estilo particular.
Durante os anos que se seguiram, somou sucessos. Todos queriam ver e ouvir a prodigiosa irmã, percorreu os Estados Unidos da América, encheu salas de espetáculos, é uma das poucas vozes femininas negras a animar os soldados norte americanos, durante a guerra. Grava Down by the Riverside e Strange Things Happening Every Day, num período onde a segregação era a norma, denotam que as normas são algo que Rosetta nasceu para quebrar e foi assim que foi a sua vida.
Depois de um segundo casamento falhado, é ao lado de Marie Knight que grava Up Above My Head, uma música sublime. Pouco se sabe sobre esta parceria que terminou abruptamente, após uma tragédia familiar ocorrida com Marie. Rosetta continua a sua carreira e, em 1951, a todos surpreende, quando é anunciado o seu casamento, o terceiro, com Russel Morrison, oficializado no estádio Griffith, em Washington D.C, perante uma audiência de vinte e cinco mil pessoas. Morrisson, seu marido e agente, acompanha-a até ao fim dos seus dias.
É com o aparecimento de jovens vindos do delta do Mississippi que surge o Rock n’ Roll e Elvis é coroado como rei do novo gênero musical. Rosetta, a mulher que vinte anos antes começou a fazer estes ritmos mantem-se fiel a si, mas a sua popularidade e o seu brilho ofuscam-se pelos novos artistas.
Até que um dia recebe uma chamada de Chris Barber, que a convida a embarcar numa nova digressão, desta vez, no Reino Unido. Para um público que nunca tinha visto ao vivo, uma verdadeira artista Gospel como Rosetta aparece como algo do outro mundo. Era diferente, cativante, fervilhava energia e alma. Ela e a guitarra eram apenas uma. A atuação de 1964 em Manchester, gravada num dia frio e chuvoso na estação de comboios, é a prova disso.
Safatle é professor de Teoria das Ciências Humanas na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da USP.
Após ter sido chamado de elitista por alguns leitores em repercussão de um artigo denominado “O fim da música” publicado em
sua coluna semanal na Folha de São Paulo, o filósofo e professor de
Filosofia da USP Vladimir Safatle discorreu sobre o assunto abordado no
programa Metrópolis da TV Cultura.
Segundo
o artigo, a música brasileira, que a princípio acompanhou o
desenvolvimento econômico do país e foi importante, inclusive, em sua
constituição e na consumação de algo que se pudesse chamar de
“identidade nacional”, passou, contudo, desde os fins dos anos 90 até
(e especialmente) o momento atual, a seguir os rumos ditados pela
indústria cultural e pelo sentimento de fim de nossos “horizontes”,
tanto criativos como políticos e afetivos.
Além
disso, trata-se de saber separar o aspecto sociológico e estético
deste tipo de análise. A crítica apresentada ao que se chama de música
brasileira atual também não é a crítica a uma arte genuinamente popular
(o que, supostamente, configuraria o elitismo), mas justamente ao pressuposto de que ela o é.
Ela
teria passado a configurar não apenas a ausência da complexidade
técnica e da consciência crítica, presentes ainda, por exemplo, na
música produzida entre os anos 70 e 80, mas seu completo esgotamento.
“Para
esses que escondem sua covardia crítica por meio de tal exercício,
lembraria da necessidade de desconstruir a farsa de um “popular” que
não traz problema algum para o dominante.”
A
diversidade musical (que ainda existe, é claro), diz o professor, é
deslocada dos focos da indústria cultural, o que acaba por
edificar estilos musicais como o funk e o sertanejo universitário como a
verdadeira expressão de nossa brasilidade atual. Soma-se a isso o fato
de que a população da periferia, principal consumidora destes estilos
musicais, está na maior parte das vezes privada do contato com essa
diversidade, disso resulta o verdadeiro bloqueio e esgotamento que eles
representam frente às possibilidades da música.
Nossa Homenagem a todos que fazem música por aqui. Que nos alegram com suas composições e sons, que nos enchem de orgulho por fazer parte dessa tribo.
Encontramos esse texto maravilhoso do músico Leandro Schaefer e gostaríamos de dividir com vocês.
O que é ser músico? (texto Leandro Schaefer)
- É apaixonar-se por um instrumento ou canto, antes mesmo de aprender música, e sentir que é aquilo que você quer na sua vida!
- É passar horas trancafiado num quarto ou sala estudando o seu instrumento, repetindo, incomodando os vizinhos, os familiares, com a fé de que um dia sua música será linda.
- É trocar o dia lindo lá fora, o passeio e o lazer, pelo estudo musical.
- É enfrentar barreiras sociais, preconceitos, e pelo esforço vencê-los e realizar o seu sonho.
- É ficar feliz com a palavra de apoio diante das dificuldades profissionais e saber fechar os ouvidos para os conselhos que lhe sugerem a desistência.
- É ter uma inesgotável paciência e persistência!
- É ouvir: "Mas além da música, você trabalha em que mesmo?", e saber perdoar a ofensa.
- É saber que a vida profissional é difícil, que há espaço para os mais qualificados, e mesmo assim estar disposto a conquistar o seu espaço!
- É praticar centenas, milhares de horas e ouvir o seu mestre dizer: "pode ser melhor".
- É conviver e conhecer pessoas MARAVILHOSAS, dotadas de valores, caráter, e moral ímpares!
- É aprender que você precisa ser forte diante do desprezo de algumas pessoas que não valorizam o que você faz.
- É receber um salário digno pela sua arte e agradecer a Deus por poder viver daquilo que mais ama!
- É receber um salário baixo, porque o "mercado clandestino" e a picaretagem lhe obrigam a reduzir o valor do seu trabalho.
- É ser o centro das atenções e emocionar as pessoas!
- É sentir que algumas vezes você e o seu trabalho valem menos que um arranjo de flores de altar de igreja ou cerimônias.
- É receber o aplauso caloroso das multidões!
- É tocar com todo o seu amor e ter que se esforçar para não perder a concentração diante das conversas e ruídos por parte de pessoas mal-educadas da platéia.
- É ter a convicção de que a MÚSICA é um poderoso meio de transformação e cura das mazelas do mundo!
- É saber que esse poder não é reconhecido por boa parte de gestores e governantes insensíveis que consideram a música apenas um passatempo e um lazer como qualquer outro.
- É escrever centenas de rascunhos antes de aprontar uma obra.
- É ter que estabelecer um preço para algo que não tem preço.
- É compor aquilo que a sua alma não consegue expressar em palavras!
- É trabalhar enquanto as demais pessoas descansam.
- É compor uma sinfonia completamente surdo!
- É compor obras que persistem no tempo!
- É ser a ponte entre a criatura e o criador!
- É compor aquela trilha que faz A DIFERENÇA no filme, no teatro, no comercial...
- É mexer com o elemento principal e indispensável para a dança.
- É ser um eterno aprendiz e aceitar que SEMPRE haverá alguém para lhe acrescentar algo novo na sua bagagem musical!
- É aquele que encontra na Música a paz e a serenidade para a sua inquietação!
- É aquele que estando com a Música, nunca está só!
- É aquele que alimenta e conforta a alma dos irmãos!
- É aquele que vê nas lágrimas e nos brilhos dos olhos dos ouvintes a sua maior recompensa!
- Ser músico é alimentar diariamente a eterna e pura criança que somos!
Alguns de nós -
E agora; uma homenagem a 6 dos maiores nomes da Música Brasileira. Zeca Pagodinho e Marisa Monte interpretam a belíssima canção dos geniais Cartola e Candeia, acompanhados pelos não menos geniais Yamandu Costa e Hamilton de Holanda...
Frejat sempre gostou de música desde pequeno. Quando tinha seis, sete anos, comprou seus primeiros discos. No início, ouvia Beatles e Roberto Carlos, Simon and Garfunkel, Nat King Cole, João Gilberto e Tchaicovsky , influenciado pela coleção de seus pais. Aos dez anos começou a ter aula de violão com um professor que, segundo ele, era um “chato”. Desestimulado, deixou o instrumento encostado num canto do seu quarto durante quatro anos.
Até os 13, só ouvia basicamente rock’n’roll: Deep Purple, Led Zepellin, Beatles, progressivos… Quando começou a ir aos shows de grupos de rock, via os caras tocando na sua frente e quis fazer aquilo. Quando chegou aos 14, ainda muito fissurado em música, voltou a ter aulas de violão. A partir daí começou a se interessar por música brasileira: Noel Rosa, Chico Buarque, Cartola, Novos Baianos, Mutantes… Alguns meses depois resolveu aprender a tocar guitarra e começou a ter aulas com Gaetano Gallifi, seu “mentor”. Frejat sempre soube que queria ser músico. Para ele, música não era apenas um passatempo, ali estava o seu futuro.
Quando convidado a ensaiar com o Barão Vermelho tinha 19 anos e imediatamente percebeu que aquelas pessoas ensaiando todo dia, com vontade de deixar a música pronta, era exatamente o que estava procurando.
Fisgado pelo Barão, formado aquela altura por Mauricio Barros, Dé Palmeira e Guto Goffi, Frejat logo encontrou afinidades para compor com Cazuza – o último a entrar no grupo. A parceria deu personalidade autoral à banda e é uma das mais ricas da música brasileira.
Em 1985, depois do histórico show no Rock in Rio I, seu parceiro partiu para carreira solo. Coube a Frejat se tornar o vocalista do grupo. Sem a menor ideia do tamanho do desafio, sua maior preocupação era fazer aquele barco continuar a navegar.
A carreira de intérprete começou no disco “Declare Guerra”. De lá até o “MTV Ao Vivo”, último lançamento do Barão, foram 12 álbuns. Compositor e guitarrista reconhecido, recebeu com a banda os prêmios Sharp de melhor grupo Pop/Rock de 1990, 1992, 1994 e 1996 e um Video Music Brasil, além de uma indicação ao Grammy Latino.
Em 2001, o Barão Vermelho resolveu parar suas atividades temporariamente. Era a oportunidade para Frejat multiplicar seu talento, sem as amarras que às vezes o trabalho em uma banda cria, abrindo assim seu leque de parceiros, com novos músicos e outras formas de lidar com sua criação.
O disco “Amor Pra Recomeçar”, lançado no mesmo ano e produzido por Tom Capone, Mauricio Barros e Max de Castro, foi o primeiro passo. Além da música-título, “Homem Não Chora” e “Segredos” foram bem executadas nas rádios.
Por seu clipe de animação,“Segredos” ganhou os prêmios VMB 2002 da MTV e o prêmio do canal Multishow em 2003. “Amor Pra Recomeçar” conquistou disco de ouro e Frejat foi convidado a abrir os shows do cantor Eric Clapton no Brasil. O intérprete Frejat consolidava-se de vez.
Devido à ótima repercussão do primeiro disco, Frejat partiu para um novo projeto solo. Assim nasceu “Sobre Nós 2 E O Resto do Mundo”. Lançado em 2003, com produção de Tom Capone e Mauricio Barros, se destacaram “Eu Preciso Te Tirar do Sério”, sucesso nas rádios e TVs, “50 Receitas” e “Túnel do Tempo”, que ganhou um novo clipe de animação.
Nesse ano, foi indicado em duas categorias ao Grammy Latino e fez uma apresentação marcante com cinco guitarras no palco do VMB 2003.
Durante toda sua carreira Frejat abriu opções para sua criatividade e experiência com a música. Em 1989 produziu o disco da banda punk paulista Inocentes. Seis anos mais tarde em 1995 ,foi o produtor musical do primeiro cd-tributo em homenagem a Roberto Carlos, “Rei”, convidando artistas consagrados e outros que despontavam na época como Chico Science e Nação Zumbi, e Skank. No ano seguinte produziu o cd do grupo pernambucano Jorge Cabeleira e o dia em que seremos todos inúteis.
Em 2004, junto com Mauricio Barros, fez a direção musical e compôs a música incidental da trilha sonora do filme “Mais Uma Vez Amor”, estrelado por Juliana Paes e Dan Stulbach, e dirigido por Rosane Svartman.
Frejat também atuou como músico, gravando trilhas sonoras e participando de discos de muitos colegas como Cássia Eller, Gal Costa, Dalto, Simone, Fundo de quintal e Evandro Mesquita. Como compositor, tem uma extensa lista de parceiros: além de Cazuza, Arnaldo Antunes, Luís Melodia, Wally Salomão,Jorge Salomão, Chacal, Gabriel O Pensador, Dulce Quental, Evandro Mesquita, Marisa Monte, Leoni, Lenine, Mauro Santa Cecília, Humberto Effe, Erasmo Carlos, entre tantos outros.
Parecia que chegava a hora de se dedicar mais uma vez a banda fundamental para sua carreira, chegava novamente a hora do Barão Vermelho. Em 2004, o grupo retornou aos trabalhos lançando o disco “Barão Vermelho”. Um ano depois, Frejat gravou com a banda o aguardado “MTV Ao Vivo”. Músicas na rádio e na TV, shows, disco de ouro, platina, enfim, tudo aquilo que se espera de um grupo como o Barão.
Durante os anos de 2005 e 2006, Frejat apresentou duas temporadas do Claro Que É Rock, programa exibido pelo canal Multishow, que unia diferentes gerações da música nacional em entrevistas e jam sessions.
Em 2007, os barões deram mais uma parada para tocar em frente seus projetos individuais. Novamente Frejat juntou sua banda de apoio formada por Billy Brandão (guitarra), Mauricio Barros (teclados), Marcelinho da Costa (bateria) e Bruno Migliari (baixo), para shows pelo país na turnê “Prefácio”.
Um dos destaques foi a releitura de “Carinhoso”, de Pixinguinha, gravada originalmente para a campanha publicitária do Café Três Corações e que seguiu com sucesso no repertório até a turnê seguinte.
Em 2008, a vontade de fazer algo que fosse um passo além dos trabalhos anteriores fez com que Frejat procurasse novos parceiros. Surgiram parcerias com Zé Ramalho, com o rapper Gustavo Back Alien, Zeca Baleiro, Martha Medeiros, Paulo Ricardo e Flávio Oliveira, sem esquecer dos parceirões de sempre Mauro Sta. Cecília, Alvin L., Mauricio Barros e Leoni. O resultado é “Intimidade Entre Estranhos”, um álbum heterogêneo, apontando para vários caminhos onde a unidade é o próprio Frejat.
O cantor chegou mais uma vez às rádios com as músicas “Eu Não Quero Brigar Mais Não”, “Dois Lados” e “Nada Além”, as duas últimas incluídas nas trilhas sonoras das novelas “Beleza Pura” e “Caras Bocas”, da TV Globo. A faixa “Tudo de Bom” também foi bastante executada e contou na gravação com as guitarras do filho Rafael, que chegou a tocar a música ao vivo com o pai em diversos shows.
No final de 2010, Frejat regravou com Edgar Scandurra o jingle “No Silêncio de Um Chevrolet” para a campanha do Chevrolet Camaro, e no começo de 2011 teve seu nome confirmado na lista de atrações do Rock In Rio 4.
Após quase 3 anos na estrada e tendo percorrido todo o país, a turnê “Intimidade Entre Estranhos” cedeu lugar “A Tal Felicidade” em julho de 2011.
O nome da turnê foi inspirado num trecho de “A Felicidade Bate À Sua Porta”, canção de Gonzaguinha, imortalizada pelas Frenéticas, que Frejat regravou e disponibilizou para os fãs em seu site.
O show apresentou canções de outros autores que ele sempre gostou e que sempre quis cantar ao vivo. Além de sucessos de sua carreira solo e do Barão Vermelho, entraram no repertório músicas de Caetano Veloso, Tim Maia, Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, entre outros.
Na noite de 1º de outubro de 2011, Frejat se apresentou pela primeira vez solo no palco do Rock in Rio. O show virou DVD – o primeiro registro oficial em vídeo de sua carreira – e um CD ao vivo.
Acompanhado por um coro de 100 mil vozes, ele viveu mais um momento inesquecível no palco do festival quando contou com a participação de seu filho Rafael, então com 15 anos, que solou como um guitarrista experiente nas canções “Malandragem” e “Amor Pra Recomeçar”.
Sucesso de público e de crítica, “A Tal da Felicidade” percorreu o Brasil por pouco mais de dois anos.
Sem lançar material inédito desde o “Intimidade Entre Estranhos”, em 2013 Frejat presenteou os fãs com uma nova música, a dançante “O Amor é Quente”, que foi lançada no iTunes junto com outra faixa, a também inédita“Me Perdoa” em parceria com George Israel e Mauro Santa Cecilia.
Composta em parceria com Maurício Barros e Fausto Fawcett, “O Amor é Quente” é um rock que traz na letra um firme posicionamento diante da intensidade do fim de uma relação.
Hora de ir para a estrada novamente! Mantendo o clima e o conceito festeiro da turnê anterior, Frejat montou um novo show, com novas luzes, cenários e figurinos.
A turnê “O Amor é Quente” estreou com pé direito no palco do Rock in Rio, abrindo a noite de 20 de setembro de 2013. Com releituras de Titãs, Roberto Carlos, Tim Maia, Caetano Veloso, entre outros, a apresentação colocou o público para dançar e cantar junto, e foi aclamada pela crítica.
Após o festival, Frejat levou “O Amor é Quente” para a estrada e, desde então, tem percorrido o país sempre com a promessa de não deixar ninguém parado!
*Contém trechos escritos por Humberto Effe.
Infelizmente, a constatação é óbvia: nunca vivemos em uma época em que a música popular brasileira realmente popular
apresentasse um grau de burrice tão grande como nos dias atuais. A
impressão generalizada é que há algum tipo de pacto de estupidez entre
gente que se diz “artista” e uma imensa manada de pessoas que
transformaram a palavra “plateia” em sinônimo de agrupamento de
retardados.
A falta de capacidade cognitiva da grande maioria de
brasileiros que consome música no Brasil gera uma total incompreensão
sobre o significado poético de canções que ainda insistem em trazer
letras que necessitem de uma capacidade cerebral superior a de um peixe
para que possam ser apreciadas. Para esta geração, as canções de caras
como Lenine, Ney Matogrosso e Gilberto Gil soam como tratados de Física
Quântica musicados.
Hoje, é cada vez maior a dificuldade de
prender a atenção destes milhões de verdadeiros “bagres”. Isso explica
porque o sertanejo chamado de “universitário” e o funk imbecilizante
se tornaram as novas coqueluches dentro do mercado nacional.
E quando
escrevo “mercado”, nem me passa pela cabeça algo que se relacione com
venda de discos, já que hoje também vivemos em tempos em que tudo pode
ser pego “de grátis” na internet. Estes dois estilos musicais
encontraram um público perfeito, desprovido de qualquer sinal de
sensibilidade poética, para quem o importante é “beijar muito na
balada”.
Para quem achava que a “axé music” era o fundo do poço,
trataram de cavar mais um pouco para checar a uma camada de “pré-sal da
estupidez”. Hoje somos o país do “tche tche rerê tetê barabará
bereberê”, do “vem novinha sentar no meu colo” e de outras merdas do
gênero.
A total falta de capacidade cerebral deste público foi
tornada explícita recentemente com a tal polêmica a respeito do que o
Zeca Camargo disse e, principalmente, no apoio que a iniciativa dos pais
do falecido Cristiano Araújo – que, sabe-se lá por quê, resolveram
processar o apresentador da Globo – vem recebendo por parte deste mesmo
público retardado que citei anteriormente. Quase ninguém realmente
entendeu o que o Zeca falou.
Neste exato momento, você deve se
perguntar “Regis, por que você está escrevendo isto?” e a minha resposta
é simples: porque estou cada vez mais preocupado em ver que um imenso
rebanho de gente descerebrada está cerceando o direito de pensar de
maneira diferente do senso comum imbecilizado.
Porque já saquei que fãs
deixaram de ser apenas idiotas comuns para se tornarem censores imbecis.
Porque já percebi que programas de TV se tornaram um imenso painel de
cretinice para buscar a audiência desta imensa turma de bucéfalos, com a
cumplicidade medrosa de atores, atrizes, cantores, cantoras e músicos
em geral, que se escondem atrás de discursos e elogios mentirosos para
não desagradar a verdadeira horda de mentecaptos que os assistem e
consomem seus produtos.
Sim, este é um texto de um sujeito velho,
ranheta e cada vez mais intolerante com o estado de coisas no Brasil,
que ainda não se cansou de tentar elevar a voz para condenar o
emburrecimento coletivo que assola o nosso País. Faço isso porque sei
que uma Nação repleta de ignorantes é o prato cheio para a desgraça.
Foi
assim que surgiu o nazismo e o tal Estado Islâmico: repita uma mentira
dez milhões de vezes para um ignorante e ela se tornará uma verdade para
ele.
Pense nisto…
"O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto
de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas".
(William Shakespeare)
A música está presente em todas as culturas desde a pré-história e parece ser uma manifestação humana natural e inescapável. Muitos de nós consideramos a música um dos maiores prazeres existentes, senão o maior - e mais que isso, imaginamos que esse deleite é compartilhado por todas as pessoas, sem exceção; afinal, uma bela canção tem o poder miraculoso de transmitir sensações, emoções e estados de espíritos muito bons os mais variados (até mesmo a melancolia e as lágrimas ao ouvir certas melodias podem ser bastante prazerosas, ou ao menos catárticas.)
De fato, uma boa parte de nós não conseguimos sequer imaginar a vida sem música, ela nos é tão fundamental como respirar. Música é uma unanimidade então, uma paixão de todos, certo? CALMA LÁ, PENSE DUAS VEZES. Para espanto de muitos, até de cientistas, pode parecer estranho e inconcebível, mas existem pessoas que são completamente indiferentes mesmo à mais maravilhosa peça musical, outras que chegam mesmo a se irritar profundamente com ela, com qualquer conjunto de notas e acordes organizados harmonicamente em uma música, por mais bela que seja.
Isso é resultado de uma constatação de estudiosos, à qual se seguiu o resultado de uma extensa pesquisa, que foi publicado na revista Current Biology. Os cientistas da Universidade de Barcelona - Espanha, coordenados por Josep Marco-Pallarés, nomearam a incapacidade de apreciar a música como "anedonia musical específica" e descreveram a existência dessas pessoas que não sentem prazer musical, embora possam ser perfeitamente sensíveis a outros estímulos e interessarem-se por outras coisas.
À parte aquelas apenas temporariamente insensíveis ou pouco estimuladas pela música, como por exemplo em algumas depressões, ao menos até o momento evitou-se classificar a "anedonia musical" como doença ou disfunção e limitou-se a defini-la como uma mera característica pessoal, própria de indivíduos nos quais a melodia não libera os hormônios do prazer. No entanto, em alguns estudos iniciais ainda incipientes, verificou-se marcadamente uma baixa taxa de afetividade e empatia nas pessoas estudadas, que parece apontar fortemente para a existência de traços psicopáticos e sociopáticos.
A anedonia musical específica não é tão comum, nem exatamente uma raridade. Num trabalho anterior, a equipe de Josep Marco-Pallarés testou 1.500 pessoas. Cerca de 5,5% apresentaram baixa sensibilidade ao prazer derivado da música, embora sentissem motivação normal em relação a outros estímulos (comida, sexo, dinheiro, etc.) Intrigado com os primeiros resultados, Josep decidiu continuar a investigação.
No novo estudo, demonstrou que essas pessoas não têm nenhuma dificuldade de percepção musical; são capazes de reconhecer corretamente as emoções proporcionadas pela música, mas apenas num nível racional, portanto são emocionalmente indiferentes a ela. Na pesquisa, a descarga de hormônios no cérebro e outros parâmetros fisiológicos (como frequência cardíaca e condutividade elétrica da pele) foram avaliados em dois momentos: primeiro quando os voluntários participaram de um jogo em que podiam ganhar ou perder dinheiro de verdade; depois, no momento em que ouviam música.
Todos os voluntários reagiram fisiologicamente ao teste do dinheiro, mas uma parcela não reagiu ao estímulo musical. Não há Beethoven, Pink Floyd, Maria Callas, Cartola ou Lepo Lepo capaz de mexer com esses indivíduos. Além de curiosa, instigante e algo assustadora, a descoberta tem valor científico em diversas áreas.
"Alguns exemplos: a identificação dessas pessoas pode ser importante para entender as bases neurais da música - ou seja, entender como um conjunto de notas é traduzido em emoções -; tem também grande interesse nas áreas jurídico/criminal e da psicologia/psiquiatria, como um possível auxiliar na determinação da complexa e ainda misteriosa psicopatia, eventualmente para encontrar formas de curá-la ou amenizá-la. As possibilidades são ilimitadas", diz Josep.
"Numa outra análise, o fato de existir gente que não gosta de música, mas sente prazer com outros estímulos, indica que temos diferentes formas de acessar o sistema de recompensa do cérebro", afirma ele. "Alguns estímulos podem ser mais eficazes que outros". O sistema de recompensa do cérebro é aquele que produz bem-estar e euforia quando estimulado. É por isso que sentimos desejo de repetir uma sensação prazerosa. Entender o papel dos diferentes estímulos pode contribuir para as pesquisas sobre dependência química e/ou psicológica, sobre transtornos do humor, etc., e estudar terapêuticas para curá-los.
Teste de Grau de Interesse Musical
Você gostaria de saber seu grau de interesse musical? No link abaixo há um teste criado pela Universidade de Barcelona. O resultado sai na hora, assim que você clica em "Send" ("enviar"). Os valores-base são 40 e 60: entre 40 e 60, o interesse é normal; abaixo de 40 é baixo e acima de 60 é alto. (Obs.: o teste está em inglês. Embora seja pequeno e bastante simples de entender, quem desejar uma tradução, favor contactar lyahkafrun@gmail.com.)
A canção abaixo, "Rivers Flow in You", foi composta e executada pelo pianista/compositor japonês Yiruma. Pessoas com grau normal ou alto de prazer musical deverão apreciá-la muito (mas evidente que deve-se considerar também o gosto pessoal, muito variável.)
A história de uma grande banda costuma ter o espírito da sua época. Ao mesmo tempo em que conta algo que só estava no ar, ajuda a ter mais clareza do escondido nas entrelinhas do cotidiano. Se uns meninos que começaram a fazer rock no Brasil na década de 80 entraram na música brasileira pra sempre, os Paralamas do Sucesso estão entre os culpados. E estão soltos por aí pra contar a história.
Em entrevistas, em covers ao vivo ou em qualquer oportunidade que houvesse lá no começo, os Paralamas falavam dos amigos de Brasília e dos moleques que também tinham banda pelo Brasil… Da primeira entrevista na Rádio Fluminense até o palco do Rock in Rio, eles passaram de anônimos a promessa.
Vital e sua moto se transformou em um dos primeiros hits daquela geração e lhes rendeu o convite para gravar um disco. E a turma foi junto, afinal estava lá uma música de Renato Russo. Outros punks e new wavers entraram no circuito até então dominado por cariocas e ajudaram a ampliar fronteiras.
Pausa pra ouvirmos uma de suas belas canções - uma de minhas favoritas
Aliás, já que se falou em Rock in Rio, também tinham sido os Paralamas a puxar a curiosidade para as bandas nacionais do maior evento que o show business brasileiro já tinha vivido. Dali pra frente, os palcos melhoraram, as turnês cresceram, as rádios deram espaço e a TV se abriu a toda uma nova cultura jovem.
Havia um novo país nascendo dos escombros da ditadura, que queria a própria trilha sonora. Depois do bom lançamento de “Cinema Mudo”, da série de hits e sucessos que vieram a reboque de “O Passo do Lui” e da apresentação histórica no Rock In Rio, veio “Selvagem?”. E aí, o patamar subiu sério.
É ou não é pioneirismo lançar um álbum brasileiro pop em plenos anos 80 com sonoridades brasileiras e caribenhas – sobretudo jamaicanas? Ali, os Paralamas colocavam os primeiros tijolos do que ainda demoraria uma década para ser completamente analisado e entendido.
Mas pode chamar de “entrar para a história”. Nessa busca, eles ainda encontraram uma forma de ser mais populares, de fazer o rock nacional ir além da classe média e, ao mesmo tempo, de torná-lo música de exportação.
Turnês pela América Latina e pelos Estados Unidos fizeram dos Paralamas a primeira banda brasileira reconhecida internacionalmente. E nessa, eles foram parar no tradicionalíssimo Festival de Montreux. Dessa apresentação, tiraram o disco “D” – o primeiro de uma série de ao vivos.
E veio “Bora-Bora”. Abriu-se outro caminho sem volta: mudaram ainda mais a linguagem pop brasileira e oficializaram o naipe de metais. Além disso, radicalizaram de vez na fusão com sons afro-caribenhos. Os arranjos mudaram, as dinâmicas de palco também e, de quebra, eles ainda ofereciam a primeira leva de canções de dor-de-cotovelo, ressentimento e mágoas de amor. Os cacos de um coração estilhaçado afiavam a pena de Herbert e o tornavam um compositor para se levar a sério.
“Big Bang” veio na sequência para tentar explodir o que havia em volta. Herbert seguia remoendo dores amorosas e ainda aproveitava para cantar o jeito brasileiro – não necessariamente o jeitinho – de sobreviver em tempos desleais.
Mais uma...
A hiperinflação dos anos Sarney, as primeiras desconfianças sobre o regime democrático e a coletiva falta de rumo asfixiavam aquela geração que, anos antes, cantava a esperança no futuro. Mais uma vez, eles eram a voz dos seus contemporâneos. A geração deles pensava o Brasil – também – pelos Paralamas.
Virada a década de 80, a desilusão chegou ao talo em “Os grãos”. O país – apesar de collorido – estava sem cor, como a capa do disco. Depois de seis álbuns lançados em oito anos de carreira, viria a ânsia de se renovar e se expor ao risco, como tinham feito Beatles, Stones, Beach Boys e todas as outras bandas que se tornaram maiores que a vida.
Programações eletrônicas e samples poderiam soar quase ofensivos quando a banda envolvida tinha Herbert, Bi e Barone. Só que os limites precisavam ser testados. No aperto, foram nossos hermanos argentinos que deram uma margem para a ousadia e bancaram algumas contas.
O clima de recessão, que só se encerraria com o Plano Real do fim do governo Itamar, definitivamente não parecia combinar com aqueles riscos todos. As baixas vendas de “Os Grãos” e os questionamentos da imprensa nacional não os fizeram aliviar.
Na sequência, veio “Severino”, ainda mais duro e abstrato. Novos experimentos eletrônicos. Rock cru. A Argentina tinha abraçado os caras e, como resposta a nós mesmos, eles apontavam para um certo sertanismo: seco como a caatinga, frio como a Inglaterra onde foi mixado. Tom Zé e Brian May. Linton Kwesi Johnson e Cabral de Melo Neto. Poucos ouviram o disco, mas os shows lotaram.
Foi da força vital de tocar ao vivo que os Paralamas se reconstruíram. Quando o Brasil começava a abrir espaço para novos grupos, de uma nova geração, chegou o segundo disco de show, “Vamo Batê Lata”. Quase um milhão de discos vendidos depois, eles estavam de volta para capitanear a nau renovada do rock nacional. Novos garotos e garotas eram apresentados a um repertório que tinha estourado quando eles ainda estavam nascendo.
O setlist paralâmico só se ampliava. Tocaram Raimundos e Chico Science. Tocaram com o Skank e com o Pato Fu. E mais uma vez eram os caras que apresentavam os novos ares da música pop brasileira. Olhando pra frente, lançaram junto ao disco do show um EP de quatro faixas inéditas. Meteram o dedo na cara do congresso com 300 Picaretas (foram censurados em plena democracia!) e voltaram às paradas de rádio e MTV com Uma Brasileira.
Pra quem ainda não tinha percebido outra virada, a confirmação chegou com “9 Luas” e “Hey Na Na”, discos tão brasileiros quanto “Selvagem?”, de dez e doze anos antes. Só que mais maturados, menos atrevidos. Uma ideia de Brasil mais assumida podia ser agora mais bem recebida.
Ora, a banda e o país tinham mudado com Fernando Henrique. E adivinha se o mergulho na poeira surrealista de “Severino” não estava na origem desse amadurecimento? Fora o maracatu de Chico Science e o forró dos Raimundos.
Quando o formato acústico já começava a dar sinais de cansaço, os discos ao vivo viravam caça-níqueis feitos às pressas e as coletâneas tomavam conta de uma indústria fonográfica que não tinha como saber que o precipício estava logo ali, eles aceitaram um convite.
Um clássico da Banda
No “Acústico MTV”, os Paralamas fugiram de naipes de cordas e outras receitas do sucesso. De extra, só Dado Villa-Lobos, mais um guitarrista, mas no violão. Deixaram os hits de lado e optaram por uma porção de lados-b. Testaram o repertório em shows supresas em casas pequenas. E na hora de gravar, em vez de um teatro centenário, um parque. Deu certo.
Passado o sucesso da turnê, do que não deixou de ser o terceiro disco ao vivo deles, foi natural esperar por uma reinvenção, outra vez. O problema é que ninguém imaginava que ali, essa expectativa viraria a única saída.
Foi um longo caminho até a volta ao estúdio em 2002. A perda de Lucy, do movimento das pernas e de parte da memória, obrigou Herbert e todos ao redor a redimensionar gestos que, antes, pareciam banais. As histórias de como a amizade de Bi e Barone e dos estímulos à memória pela música e pelo afeto foram fundamentais à recuperação são emocionantes.
O acidente de ultraleve em fevereiro de 2001 fez banda, músicos de apoio, amigos e fãs refletirem. Até a esperarem pelo pior. E aprender que a arte de viver da fé, quando se sabe a fé em quê, salva. Outro nome para isso seria amor. O amor salvou Herbert e os Paralamas.
“Longo Caminho”, o primeiro álbum pós-acidente, mostrou onde a banda estava antes da pausa. Uma turnê visceral cortou o país para celebrar a vida. Cercados de amigos, no palco e na plateia, lançaram o CD e DVD “Uns dias”. Disco de estúdio, disco ao vivo e DVD – tudo junto e muito intenso. Viraria rotina, a partir daí.
A época era de buscar alternativas, de muita informação e compartilhação. A música viveu essas crises tecnológicas e internéticas antes das outras indústrias. E os Paralamas, claro, passaram por isso.
Sem parar, emendaram no álbum “Hoje”, que comprovou que a capacidade criativa dos três permanecia intacta e pulsante. O que não faltava eram guitarras distorcidas.
Em seguida, mais festa. O sucesso da celebração de 25 anos de carreira, em um projeto conjunto com os camaradas dos Titãs, foi um atestado de sanidade de toda aquela geração que, no início da década de 80, fez o novo acontecer e, a partir dali, escreveu a própria história…
Com “Brasil Afora”, os Paralamas trouxeram a estrada para as letras, para a cenografia, para o imaginário e para a prática. Como é que eles não tinham pensado nisso antes? A banda que sobrevive de amizade e som, só sabe que a receita dá certo porque ela é testada no asfalto quente.
O interior do país ganhava poder de compra, a desigualdade diminuía e os Paralamas estavam falando disso. E, claro, levando tudo para o palco.
O show virou, via Multishow, um novo disco ao vivo e um DVD. E Zé Ramalho e Pitty entraram na roda dos amigos que a banda trazia pra perto.
A onda da estrada contagiou, e a data redonda de 30 anos mereceu a comemoração mais óbvia e natural: uma turnê. Quem começou aos 20 e poucos sonhando em tocar naquele tal palco do Circo Voador tinha que reencontrar aquela galera dos primeiros shows, a galera dos primeiros ingressos, de quem tinha estreado a vitrola com um LP daquele rock de bermuda.
Um telão de led passava tudo enquanto eles tocavam tudo. Tanta definição ficou embaçada nas lágrimas que escorriam de casais há anos sem sair pra um show de rock, a pais que nunca tinham ficado da mesma idade dos filhos por uma noite. Foi emocionante, e se você duvida é só assistir ao “Multishow Ao Vivo – 30 Anos”, show e documentário que saíram em DVD e programa de TV.
A caixa de vinte CDs – dois inéditos, um com músicas cantadas em castelhano e outro de versões nunca lançadas – fecha mais um ciclo. Trinta anos se foram. Ser a banda mais longeva do Brasil sem mudar de formação impõe desafios e responsabilidades.
Ser relevante e ser divertido, provar que a fonte da eternidade que é o rock só funciona para quem respeita a própria história na medida certa – que é no movimento do som, da dança, da estrada e do tempo.
O que os Paralamas estão preparando pra gente? Que Brasil é esse que eles vão explicar do jeito deles? A gente tá louco pra descobrir.
A Saideira é um presentaço para todos os fãs, mas também para todos aqueles que não conhecem tão bem a brilhante trajetória e obra dessa grande banda.
A presença marcante dos Paralamas no Festival de Verão de Salvador de 2014 - Show completo e imperdível...
Pra você que aprecia a bela obra de um dos maiores compositores clássicos da história da música, aqui vai uma seleção criteriosa com o melhor de Frederic Chopin. Duas horas de uma viagem musical esplendorosa.
Fotografia é a arte de pintar com a luz. Se você acompanhar otrabalho de um fotógrafo, verá que para fazer uma única foto é precisocuidar de vários fatores: o enquadramento, a cor da luz, o contraste, as sombras, a disposição dos objetos, a postura e a expressão dos modelos, maquiagem, para dar suavidade, retirar brilhos excessivos da pele, ofigurino, que além de valorizar os modelos tem que harmonizar com as cores do ambiente. No cinema as coisas são bem mais complicadas: são 24 fotos por segundo, em movimento, feitas em diversas tomadas, diferentes ângulos e planos-sequencia e todas têm que sair boas. No filme Orgulho e Preconceito, de ×Joe Wright, com direção de fotografia de ×Roman Osin, cada segundo é eternizado em uma obra prima, com as sutilezas de luz e sombra e a paleta de cores de uma pintura à óleo. E ainda com a beleza de Keira Knightley…
Repare o brilho da pele e dos olhos, a cor azul e o baixo contraste da luz da madrugada, preservada na cena, feita pouco antes do sol nascer. A luz ésuave no rosto e não deixa sombras. Fosse uma câmera digital e o balanço de branco teria que ser cuidadosamente ajustado para preservar essa cor azulada. A cena tem um timing perfeito, porque ela começa pouco antes do sol nascer e termina com os primeiros raios de sol. Em poucos minutos a corda luz, o contraste e a saturação das cores se altera dramaticamente.
Assista a algumas cenas desse belo filme ao som da música Thousand Years
Poucos
minutos depois a luz mudou significativamente. O contraste se acentuou
um pouco. As cores estão mais acentuadas. Nesta cena, um solo crescendo
de violoncelo, minimalista, dá lugar ao piano impressionista à medida
que o dia vai nascendo. A transição entre noite e dia, nos primeiros momentos da manhã é a
hora mágica da fotografia. A paisagem muda com a luz a cada segundo; o
contraste é baixo, o que favorece a fotografia, mas o cara tem que ser
muito, mas muito bom mesmo para conseguir um bom resultado. Em outra cena, que se passa na beira do lago, no início da manhã, a
luz do sol refletida no lago foi suavizada de um lado e rebatida de
outro, produzindo um resultado belíssimo.
A diferença de temperatura de cor de uma cena à sombra de uma árvore:
A
caraterística da luz à sombra de uma árvore: a temperatura de cor é
mais fria porque debaixo da árvore a luz que chega é do céu e o
contraste é mais suave, porque a luz é indireta. A luz deve ter sido
reforçada apenas com rebatedores. E na chuva a cor da luz é ainda mais fria (azulada):
Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice) é baseado no romance
homônimo de Jane Austen. Na primeira vez que o assisti em minha sala de
cinema fui arrebatado de tal forma pela beleza do filme, da fotografia e
da música, que em alguns momentos mal conseguia acreditar no que meus
olhos estavam vendo. Cheguei a levantar da poltrona, tamanho o meu
assombro.
As cenas de exterior, de natureza, são absolutamente primorosas.
Nesta cena, a câmera se desloca em direção ao abismo, ficando suspensa sobre ele no final.
A árvore é linda, a disposição dos personagens traz equilíbrio e não há sombras com dia nublado.
Agora no interior. Reparem na beleza desta cena. A saturação das
cores quentes da luz de velas, o contraste perfeito, comedido, as
nuances de luz e sombra mostrando a textura delicada da pele.
Em cada cena, o fotógrafo preservou as características da luz. Ele
não forçou, apenas suavizou, acentuou aqui e ali para dar
tridimensionalidade, separar o personagem do fundo.
Não há como fazer cenas de interiores sem iluminação artificial, porque
essa luz seria insuficiente para filmar em movimento. Mas a luz lateral
que entra pela janela é tão natural que mostra a maestria do fotógrafo
em posicionar as luzes para criar este efeito.
A luz de velas, fiel à época, é usada com inspiração nos jantares.
A palete de cores é simplesmente maravilhosa:
Nesta
cena ele usa contraste de cores, combinando a luz azulada que entra
pela janela (dá para perceber no cabelo de Donald Shuterland) com a cor
quente da luz de vela.
Em outras cenas deste jantar a luz azulada faz o contorno do pescoço das moças , em contraste com o tom quente da luz de vela:
A movimentação das câmeras, as diversas tomadas de diferentes ângulos
e a fotografia é apenas um dos ingredientes do filme, em conjunto com
direção, atuação, roteiro, produção, cenário, figurinos, maquiagem. Tudo
tem que funcionar com perfeição.
As salas das mansões são um espetáculo à parte.
O virtuosismo de Roman Osin, o diretor de fotografia deste filme, e
Joe Wright, o diretor do filme, está também nas várias tomadas longas,
sem cortes. A seqüência inicial do filme é assim. A câmera entra pela
porta, passa pelos cômodos, sai pela janela. A dança de Elizabeth (Keira
Knightley) e Mr. Darcy (Matthew MacFadyen) é filmada em uma só tomada,
por longos minutos. A câmera acompanha com leveza os suaves movimentos
da dança, focalizando ora um, ora o outro.
Em outra cena mais impressionante no baile a câmera passeia por
diferentes salas em uma única tomada, sem cortes, por mais de 3 minutos,
uma eternidade pela seqüência impressionante de eventos que envolvem
quase todos os personagens do filme, passeando entre pilares, entre
diálogos, sempre observando, ouvindo, filmando detalhes delicados de
mãos, de olhares, de expectativas – um primor de métrica, de iluminação e
enquadramento. Jamais havia visto uma cena tão difícil (pela sequencia
de eventos que envolve) em uma única tomada sair tão absolutamente
perfeita e natural.
Apreciar a arte é como degustar um bom vinho, é como apreciar a vida.
Nós temos que evoluir os sentidos, aguçar nossa percepção para poder
aproveitar cada momento mágico da vida, do vinho, da arte. E assim, cada
dia de nossa vida é vivido como um dia mágico.
A trilha sonora deste filme é simplesmente maravilhosa. Foi gravada
pela famosa English Chamber Orchestra e todos os solos de piano,
inspirado nas primeiras sonatas de Beethoven – música contemporânea de ×Jane Austen
no final do Século XVIII – é tocada por ninguém menos que Jean-Yves
Thibaudet, renomado pianista francês . Dario Marianelli humildemente
escreveu no CD da trilha sonora que ele deve ter feito alguma coisa
certa para ter sido abençoado com as pessoas que ele acabou trabalhando
em Orgulho e Preconceito. E, ao contrário do que ocorre na maioria dos
filmes, em que a música é feita somente depois de terminado o filme, o
diretor ×Joe Wright procurou Dario Marianelli bem antes de começar a filmar.
A performance de Matthew MacFadyen como Mr. Darcy é extraordinária, assim como a da ×Keira Knightley
com sua beleza e talento excepcional, como Elizabeth, e Donald
Shuterland, como o pai de Elizabeth. O roteiro é inteligente e
emocionante, a produção e o figurino são impecáveis, as locações
estonteates – belíssimas mansões inglesas – e a direção iluminada de ×Joe Wright fazem deste filme uma grande obra prima na história do cinema.
P.S.: E tem gente que acha caro comprar um DVD original. Ter uma obra prima como esta em sua casa por 30 reais é um milagre.A imagem deste DVD, aliás, está impecável e quando sair o blu-ray eu estarei na fila para comprar.