Por Luigi Rotelli
Fotografia é a arte de pintar com a luz. Se você acompanhar otrabalho de um fotógrafo, verá que para fazer uma única foto é precisocuidar de vários fatores: o enquadramento, a cor da luz, o contraste, as sombras, a disposição dos objetos, a postura e a expressão dos modelos, maquiagem, para dar suavidade, retirar brilhos excessivos da pele, ofigurino, que além de valorizar os modelos tem que harmonizar com as cores do ambiente. No cinema as coisas são bem mais complicadas: são 24 fotos por segundo, em movimento, feitas em diversas tomadas, diferentes ângulos e planos-sequencia e todas têm que sair boas. No filme Orgulho e Preconceito, de ×Joe Wright, com direção de fotografia de ×Roman Osin, cada segundo é eternizado em uma obra prima, com as sutilezas de luz e sombra e a paleta de cores de uma pintura à óleo. E ainda com a beleza de Keira Knightley…
Assista a algumas cenas desse belo filme ao som da música Thousand Years
A diferença de temperatura de cor de uma cena à sombra de uma árvore:
As cenas de exterior, de natureza, são absolutamente primorosas.
Agora no interior. Reparem na beleza desta cena. A saturação das cores quentes da luz de velas, o contraste perfeito, comedido, as nuances de luz e sombra mostrando a textura delicada da pele.
Em cada cena, o fotógrafo preservou as características da luz. Ele não forçou, apenas suavizou, acentuou aqui e ali para dar tridimensionalidade, separar o personagem do fundo.
Não há como fazer cenas de interiores sem iluminação artificial, porque essa luz seria insuficiente para filmar em movimento. Mas a luz lateral que entra pela janela é tão natural que mostra a maestria do fotógrafo em posicionar as luzes para criar este efeito.
A luz de velas, fiel à época, é usada com inspiração nos jantares.
A palete de cores é simplesmente maravilhosa:
Em outras cenas deste jantar a luz azulada faz o contorno do pescoço das moças , em contraste com o tom quente da luz de vela:
A movimentação das câmeras, as diversas tomadas de diferentes ângulos e a fotografia é apenas um dos ingredientes do filme, em conjunto com direção, atuação, roteiro, produção, cenário, figurinos, maquiagem. Tudo tem que funcionar com perfeição.
O virtuosismo de Roman Osin, o diretor de fotografia deste filme, e Joe Wright, o diretor do filme, está também nas várias tomadas longas, sem cortes. A seqüência inicial do filme é assim. A câmera entra pela porta, passa pelos cômodos, sai pela janela. A dança de Elizabeth (Keira Knightley) e Mr. Darcy (Matthew MacFadyen) é filmada em uma só tomada, por longos minutos. A câmera acompanha com leveza os suaves movimentos da dança, focalizando ora um, ora o outro.
Em outra cena mais impressionante no baile a câmera passeia por diferentes salas em uma única tomada, sem cortes, por mais de 3 minutos, uma eternidade pela seqüência impressionante de eventos que envolvem quase todos os personagens do filme, passeando entre pilares, entre diálogos, sempre observando, ouvindo, filmando detalhes delicados de mãos, de olhares, de expectativas – um primor de métrica, de iluminação e enquadramento. Jamais havia visto uma cena tão difícil (pela sequencia de eventos que envolve) em uma única tomada sair tão absolutamente perfeita e natural.
A trilha sonora deste filme é simplesmente maravilhosa. Foi gravada pela famosa English Chamber Orchestra e todos os solos de piano, inspirado nas primeiras sonatas de Beethoven – música contemporânea de ×Jane Austen no final do Século XVIII – é tocada por ninguém menos que Jean-Yves Thibaudet, renomado pianista francês . Dario Marianelli humildemente escreveu no CD da trilha sonora que ele deve ter feito alguma coisa certa para ter sido abençoado com as pessoas que ele acabou trabalhando em Orgulho e Preconceito. E, ao contrário do que ocorre na maioria dos filmes, em que a música é feita somente depois de terminado o filme, o diretor ×Joe Wright procurou Dario Marianelli bem antes de começar a filmar.
A performance de Matthew MacFadyen como Mr. Darcy é extraordinária, assim como a da ×Keira Knightley com sua beleza e talento excepcional, como Elizabeth, e Donald Shuterland, como o pai de Elizabeth. O roteiro é inteligente e emocionante, a produção e o figurino são impecáveis, as locações estonteates – belíssimas mansões inglesas – e a direção iluminada de ×Joe Wright fazem deste filme uma grande obra prima na história do cinema.
P.S.: E tem gente que acha caro comprar um DVD original. Ter uma obra prima como esta em sua casa por 30 reais é um milagre. A imagem deste DVD, aliás, está impecável e quando sair o blu-ray eu estarei na fila para comprar.
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