Na ilustração acima, o "portão da
morte" do campo de concentração de Birkenau.
Oração na câmara de gás de Buchenwald – Schwartz-Bart – O
Último Justo
Quando
as camadas de gás cobriram tudo houve um silêncio na sala, um silêncio que durou talvez um minuto, entrecortado apenas pela tosse e os soluços dos que já estavam
moribundos e impossibilitados de oferecer uma oração. E, primeiramente um riacho,
depois uma cascata e, logo, uma irresistível e majestática
torrente: o poema que, através do fumo das fogueiras e sobre
todos os martírios da história dos judeus,
o velho poema de amor que eles traçaram em letras de sangue sobre a superfície
da Terra fez-se ouvir naquela câmara de gás,
envolvendo-a, vencendo aquela
horrível e sombria tosse: “SHEMA YISRAEL”... “Escuta, ó Israel, o Senhor é o nosso Deus,
o Senhor é Um. Ó Senhor, por vossa
graça alimentais os vivos e, por
vossa grande piedade, ressuscitais
os mortos, defendeis os fracos, curais os doentes, quebrais as correntes dos escravos. E, fielmente, sempre
cumpristes as vossas promessas para com aqueles que dormem sobre a poeira. Quem
é como vós, ó misericordioso Pai, e quem poderia jamais ser como vós...?”
As
vozes morreram uma por uma em meio ao poema ainda por terminar. As crianças
moribundas cravaram as unhas nas pernas de Ernie e o abraço de Golda tornou-se
mais fraco, os seus beijos menos
intensos, e, ainda presa ao pescoço do seu amado, soltou um último suspiro: “Então
nunca mais te verei? Nunca mais...?”
Assim, essa história não terminará. Pois a
fumaça que se ergue dos crematórios obedece,
como qualquer outra, as leis físicas: as partículas juntam-se e
dispersam-se segundo o vento que as faz girar. A peregrinação seria olhar com
tristeza para um tempestuoso céu, uma
vez por outra.
“...E
louvado. Auschwitz: Seja. Maidanek: O
Senhor. Treblinka: E louvado. Buchenwald:
Seja. Mauthausen: O Senhor. Belzec: E
louvado. Sobibor: Seja. Chelmno: O
Senhor. Ponary: E louvado. Theresienstadt:
Seja. Varsóvia: O Senhor. Vilna: E
louvado. Skarzysko: Seja. Bergen-Belsen: O
Senhor. Janov: E louvado. Birkenau: Seja. Neuengamme: O Senhor. Pustkow: E louvado...”
(Para
quem não observou, os nomes mencionados logo acima são de alguns campos de
concentração [ou de extermínio] na Segunda Guerra Mundial.)
Extraído
do livro “As Mais Belas Orações de Todos os Tempos” – compilação de Rose Marie
Muraro e Frei Raimundo Cintra
Hino
de Israel – “A Esperança” – “Hatikvah”